domingo, 4 de janeiro de 2009

Viajantes do tempo













E se pudéssemos viajar no tempo?

Vincent pode nos dizer como foi para ele:


Amor se deslocando


Dubois correu para o lado de Vincent, Lautrec e Edith também. Todos eufóricos com a nave temporal dourada. Um leve chiado indicava que estava operante.

- Não disse que ia funcionar? Até já fiz algumas viagens-teste!

Enquanto dizia isto, orgulhoso, manipulava um manche e um teclado “febrilmente” e a nave agora cortava um mundo cinza, branco e negro, um vazio entre tempos – como se estivéssemos fora da estrutura da realidade – cortando atalho entre buracos entre tempos. Dubois deu um breve abraço de congratulação em Vincent, Edith gritou elétrica:

- Vamos para o futuro, Vincent, rumo ao amanhã! – Lautrec observava tudo, a euforia dele fora substituída por um olhar distante, indiferente. Vincent procurou ignorá-lo – sabia que só estava ali para se assegurar da volta de Edith, as palavras dele foram exatamente:

- Se vocês não voltam, ou se perdem no rio dos tempos - buracos de minhocas e estas coisas, estando com vocês posso cuidar de minha Edith.

Foi obrigado a concordar e aceitar o grandalhão no grupo; quanto a Dubois era um ótimo e excêntrico engenheiro, consertador de coisas e criativo solucionador de pequenos problemas. Útil para viagens no tempo e sua irmã, era a convidada especial para esta aventura, divertida, ousada, palidamente linda; seu único defeito: Lautrec, o grandalhão. Eram jovens, talvez eu crescesse ainda, pensou Vincent: talvez Lautrec diminuísse, emagrecesse, encolhesse – precisava pensar numa arma de raios para ajudar com esta questão. Outra hora...

Vincent ajustou os comandos e avançaram no tempo, 1000, 2000,3599 anos...
A nave estacou num continuum, branco cinza e negro, fora da realidade, saltou por um buraco de minhoca e caiu no ano desejado. Uma enorme janela nos mostrou o futuro e uma voz atrás de mim observou uma situação curiosa:

- Vincent, se este é o futuro, por que a moda vitoriana, indagou Dubois enquanto observava algumas pessoas a distância e seu estilo de vestir.

- É verdade, seria uma moda retrô? Sugeriu Edith.

- Para mim, você viajou na direção errada. cortou seco, Lautrec.

Vincent olhou sorridente para todos: - Estamos em 3599 senhora e senhores, este é o futuro. Bem, vou abrir outra fenda temporal em algum lugar que não esta Europa, acho que não estamos vestidos adequadamente para este passeio e creio até que este chapéu cônico e vermelho do Dubois e meu relógio de peito não passarão despercebidos. Sem comentários Lautrec, cada um se veste do jeito que gosta e não critico seu gosto para sapatos.

Lautrec ignorou Vincent e se atrasou em olhar a fenda que agora se fechava, pessoas passeavam por uma rua estreita de paralelepípedos e acreditou ver a distância um pedacinho do arco do triunfo – um sentimento cívico se apossou dele, até que notou que um senhor alto, de paletó e sobretudo o observava de um canto oculto da rua. Jurou vê-lo pegar algum instrumento incompatível com a época e apontar em sua direção, mas a fenda se fechou antes de ação do cidadão do futuro gerar algum efeito neles.

- Vincent, acho que aquele é o futuro mesmo e já sabem de nós: comentou um preocupado Lautrec.

Vincent deu de ombros.

- Impressão sua. Vamos agora visitar um lago com uma bela floresta no período medieval, temos pães, sucos e vinho. Quem sabe podemos ver um dinossauro depois de nosso lanche? Vincent ajustou a máquina que zumbiu novamente e chegou ao destino programado. Vincent visitara algumas localidades sozinho e isto facilitava os deslocamentos temporais e evitava surpresas inesperadas.

Lautrec recusou descer da nave e logo os três aventureiros estavam entretidos num passeio pela floresta de árvores milenares, seguido de um café da tarde agradável. Estenderam uma toalha vermelha num descampado próximo da nave e começaram um papo animado sobre viajantes do tempo, guardas temporais que vigiam as linhas do tempo, vigilantes das linhas do status quo, sugeriu Vincent. Caso existissem.

Um estrondo chamou a atenção do trio, como um som de trovão. O sorriso de Vincent por estar ao lado da bela Edith sem o grandalhão a importuná-lo se desfez. O preço por estar ao lado da graciosa moça num vestido negro com seus cabelos mais negros ainda se tornou rapidamente alto. A fenda temporal se fechara e a máquina dourada desaparecera. Dubois gemeu e puxou a irmã para perto de si – a mesma parecia próxima de um estado de surpresa, incredulidade e choque.
- Ah, Lautrec! Gritou desesperançado Vincent, olhando a vegetação ao redor, o lago plácido e a toalha estendida no chão, com o resto do café da tarde. A fome passara e um embrulho no estômago crescia lentamente.

“ Se o controle externo ao menos estivesse pronto...” tocou o relógio no peito e se desesperou ainda mais Vincent...

- E agora Vincent? Uma súplice Edith o observava olhar o vazio antes ocupado pela nave dourada, sugada para sabe-se lá qual período da humanidade ou do planeta.

Vincent forçou um sorriso de ânimo e coragem e gesticulou confiante:

- Vamos esperar um pouco, pode ter sido uma flutuação temporária na fenda, a nave pode ainda estar aqui, vamos manter distância caso ela se materialize daqui a pouco. – ele queria acreditar muito naquela possibilidade. Muito mesmo.

Para surpresa de todos, a fenda abriu e se fechou e um sujeitinho vitoriano alto com um chapéu coco e um pequeno aparelho se aproximou. Tinha uns sapatos engraçados, como pode notar Vincent, que olhava atentamente agora o aparelho na mão do homem, de forma ansiosa até...

- Gostou do meu brinquedinho? Um gadjet muito adequado para alcançar vocês. disse num inglês britânico sombrio que lembrava alguém que Vincent conhecia, mas quem?

Vincent respirou fundo e rapidamente Dubois se precipitou sobre o cavalheiro anacrônico despejando milhares de palavras, interjeições e pedidos, seguido de perto por Edith que com um olhar furtivo dirigido a Vincent solicitava que os acompanhasse num pedido de misericórdia ao estranho.

O sujeito estava irritado, se apresentou como vigia temporal e estava prendendo o trio por tentativa de danificar a estrutura espaço-tempo – o vigilante das linhas de status quo, pensou amargo Vincent. Ia dizer algo, mas ao pensar naqueles sapatos e ver de relance uma tatuagem e parte de uma cicatriz que a mesma tentava ocultar esteticamente no punho do homem, silenciou, pois sabia com quem estava tratando: Lautrec!

Agora tinha certeza, era Lautrec, ou um Lautrec; a estratégia para escapar daquele embrulho agora seria simples. O inimigo era conhecido e se divertia em ignorar os apelos de Dubois, alternando olhares ternos para Edith e ocultamente ameaçadores para Vincent.

Hora de agir, pensou o construtor da máquina do tempo e tomou a frente dos irmãos e negociou diretamente com o agente temporal:

- Sr L. entrego as plantas da máquina do tempo que carrego comigo, destruo as maquetes que tenho na minha linha do tempo e juro não me envolver mais com viagens no tempo, creio que isto será suficiente para seus superiores. Esta foi minha primeira infração e isto deve servir como atenuante para mim e meus companheiros. Não nos prenda em nenhum limbo, deixe-nos voltar para nossa época e não se fala mais em amores..erhn..quer dizer, viagens no tempo. Aqui tenho um controle da nave, mas como deve ter percebido, só pode ser operado de dentro da própria nave.

- Por enquanto, como bem sei – foi a resposta do agente, recolhendo o controle e as plantas.

Vincent comparou rapidamente os controles que ambos carregavam e achou certas semelhanças externas entre ambos, um parecia a evolução natural do outro. Procurou silenciar. Alguém se apossara da tecnologia e soubera aproveitar o conceito de saltos no tempo via buracos de minhoca, a miniaturização seria o próximo passo e parecia que o Lautrec com seu bigodinho ridículo a frente de Vincent parecia ser esta pessoa. Ele e seus possíveis superiores, se é que existiam. Mas sua atitude de rendição apresentara resultado:

- Estão liberados – disse após um tempo, enquanto olhava para Edith. Abriu uma fenda no espaço-tempo com alguns apertos e ajustes em seu aparelho e exigiu que o trio atravessasse a fenda oscilante cinza branco e negra.

Um Vincent resignado e um casal de irmãos animados com o desenrolar positivo da situação atravessou e partiu para um dia chuvoso europeu em sua própria época, uma semana depois do primeiro salto.

Lautrec já estava lá e contou uma história cabeluda de como tinham confiscado a máquina do tempo e sumido com todo o projeto enquanto os três estavam fora. Vincent só tinha olhos de frustração e raiva para a tatoo no punho de Lautrec.

Edith notou alguns cabelos brancos em Latrec e o mesmo acusou Vincent por ter sofrido efeitos colaterais na viagem, Dubois questionou tal possibilidade, pois só o grandalhão sofrera tal efeito. Vincent sabia a resposta, mas se calou. As viagens no tempo tinham sido cortadas de sua vida para sempre, não adiantava polemizar.

A forma como conduziu as coisas naqueles dias gerou um prêmio anos depois: casou com Edith para desespero de Latrec. De alguma forma, Edith soubera escolher a pessoa certa.

Vincent não podia pensar em algo melhor para sua vida, ainda mais quando Edith relembra aqueles dias e faz a famosa pergunta - quando estão a sós em sua loja de vinhos de época em Toulouse:

- Por que chamou aquele sujeito de Senhor L. aquele dia?

Com um gracejo Vincent explicava que era o apropriado para o momento, que havia sido um improviso e que o importante é que ajudara a escapar aquela situação temerária no período medieval.

“Afinal o tolo se achou pressionado a agir rapidamente e concordar com meus termos, sem ser desmascarado na frente de sua paixão – minha futura esposa”. pensou Vincent.

Mas o gostoso mesmo, para o ex-viajante do tempo, era apreciar os sabores únicos de seus vinhos envelhecidos e contar sua aventura temporal para a sua pequena filha Beatrice e diverti-la com os desdobramentos e a participação de sua mãe. Fazendo a garotinha correr para os braços da mãe e jogar beijos para o jovem aventureiro.

Vincent só não esperava o pedido da jovem Beatrice um certo dia:

- Pai, você viu a Torre Eiffel pessoalmente e eu só posso ver sua holo-imagem. Quero muito conhecê-la! Que tal uma última viagem maravilhosa?

O viajante do tempo tamborilou no velho relógio dourado que ostentava no peito e que escapara a atenção do Sr L. por se tratar de uma suposta excentricidade – um último brinquedo no qual trabalhava ocultamente nas horas vagas. Pensativo e sorridente, pegou o velho despertador na mão e olhou para seus ponteiros, Beatrice tocou no aparelho curiosa enquanto o pai sussurrava em seus ouvidos:

- Vou pensar a respeito querida, talvez possamos realizar esta viagem, talvez!






Fim




Você está saindo de Zona Crepuscular e viajando no tempo um dia por vez, faça uma boa viagem pelo ano de 2009!

2 comentários:

Anônimo disse...

Edu:

Viajar no tempo, mas para trás. Gostaria. Não para o Futuro. Não tenho espírito de aventura! Para trás, sim. Rever o passado em tudo aquilo que me ofereceu de bom; rever os que partiram; rever-me a mim própria, seria bom, tenho a certeza. Como não é posível vou aproveitando a tua imaginação, os teus posts.
Abraço amigo da Sol

Anônimo disse...

Também gostaria de voltar no tempo e me alertar sobre algumas coisas... Mas, no final das contas, acho que somos a soma de tudo de bom e ruim que nos aconteceu nesta jornada e temos que lidar com isto, da melhor forma possível! Abs e ótima semana!

Edu