sábado, 9 de fevereiro de 2008

Zona Crepuscular sugere que você não fique trancado no seu passado...é perigoso; você não vê as asas surgindo!




Zona Crepuscular investindo no seu lado sci-fi chega chegando: Vai continuar vivendo de velhas lembranças ou vai dar espaço para o novo?


Zona Crepuscular – acesse contos inesperados que ocorrem na hora mágica... nem dia, nem noite.


Neste post você será levado a um lugar distante, num mundo de heróis e nem tão heróis assim...




Uma noite destas num mundo tecnológico que não é o nosso:

- Geovana já se foi? Levou o namorado?

- Ótimo! Deixa eu falar de como a perdi miseravelmente um dia após uma noite estrelada.

A garota se sentou confortavelmente no sofá jogando as asas emplumadas por cima do encosto enquanto me observava atentamente. Garotas aladas e de pele azul...o que mais a reengenharia genética poderia propor a humanidade?

- Confortável? Ótimo, achei que teria dificuldade em se acomodar com estas asas enormes.

A garota sorriu enquanto tomava a margherita que eu preparara.

- Deixa-me falar o que não pude anteriormente então: Foi assim, Blue: como herói eu sou uma negação em certos aspectos. (normal! Sabe?) Quando é hora de recuar, ataco; se for hora de ter misericórdia, sou vingativo; hora de vencer, perco. É um descompasso desagradável. Se o futuro da humanidade for depositado em minhas costas feito Atlas ou se depender de minha pessoa desarmar uma bomba do estilo Armagedon: esqueça!...ultimamente não tenho agüentado nem o peso de minha vida...apenas sou aquela pessoa que completa a equipe, o escada daquele que conta piada, o clown que leva a torta na face; nunca ambicionei mais que isto até que Geovana foi convocada a participar desta equipe. Ótimo! pensei - depois gamei e lutei assumindo a liderança da equipe por um semestre e também o coração desta japonesinha! Nosso primeiro beijo? ahhh! Nem te digo!



- O quê? Ah era ótimo, sim! Tinha uma química, nossos poderes não atrapalhavam e o beijo, carah..ops, minah, rêrê! Garota como aquela heroína beijava. Sei, sei...o beijo é o encontro dos sentimentos de um casal, mas havia algo de mágico, de misterioso naquele nosso beijo. Um enlace com a eternidade, um romper com a mesmice de meus relacionamentos e um abdicar do automatismo rotineiro do beijar por beijar – mas, às vezes, você foge daquilo que mais necessita numa mistura de jogo, timidez, ciúme e periga, no final, acabar naquela estradinha escura e esburacada que têm apenas três placas de sinalização que não indicam o caminho de volta. Quais? Ah, querida, eu te explico agora, placa 1: solidão, placa 2: infelicidade e placa 3: desesperança. Garanto-te que estas placas não te reconduzem ao caminho do amor e da felicidade. Foi lá que caí, que perdi meu machado...



Bebo algo e observo a garota bebericar distraidamente, suas asas tremulam e um leve odor de pássaro me envolve. Ela deve tratar com muito cuidado aquele par de asas – aliás,que pele linda, dá até para se acostumar com as tonalidades de azul e como elas se iluminam a meia-luz conforme Blue gesticula estrategicamente. Os lábios me fazem lembrar Geovana, beijo, felicidade. A mulher-pássaro sorri enigmática para mim, mexe no cabelo como a recompô-lo – como pode aturar este meu farfalhar de mazelas e tristezas que escapa de minha garganta? Ela pergunta algo...quase não ouvi...



- Se acho que o amor é loucura? Pelo meu comportamento atual creio que sim! Meu ciúme quase destruiu nossa realidade, pessoas morreram por causa de meus caprichos e desejos (ainda bem que o governo tolerou minhas falhas afinal ações como a que conduzi sempre envolvem riscos). Como eu disse antes, na hora primordial, a “H”, não sou um grande herói, mas como eu conquistara o posto de líder da equipe coube ao grupo seguir minhas ordens. A coisa só não naufragou e virou uma tragédia maior por causa da coragem da Geovana. Ela salvou a todos quanto pode e até a mim. Todos me culparam por minhas ações precipitadas e escolhas dúbias em momentos decisivos. Olha Blue, se vencemos não foi graças a minha liderança. Arrependo-me agora e desculpe – puxa, fecho os olhos e vejo imagens da Geovana me beijando; tenho vários momentos legais com ela. Puro amor, romance, beijos carinhosos - mas a perdi.



- Como?

Observei-a sorver mais um pouco de margherita e cruzar as pernas se aninhando um pouco mais no sofá – estava absorta em minha narrativa. Um estrondo me assustou, ecos daquela batalha que quase perdemos.

- Que foi lá fora?

Corri para a janela, vida de herói é sempre estar preparado para a próxima ameaça mundial que ira apagar toda a realidade conforme a conhecemos, observei a sacada e divisei raios e trovões distantes. Estávamos alto na platiforma residencial voadora – caso a chuva representasse perigo, nosso bairro obteria uma autorização e receberia nova latitude, longitude para pairar comodamente em novo local até a borrasca se dissipar. Tornados nunca mais.

- Chove forte, só isso...

- Eu gosto de como a chuva bate e escorre em minhas asas, é relaxante!

O sorriso dela era azul, lindo, amplo, dentes alvos e suas asas mexiam com minha imaginação. Como seria o vôo dela em meio às nuvens? Acredito que algo impactante para se ver. Menina azuzinha...

- Então, graças a meus erros, a Geovana me largou, a equipe foi reestruturada; você notou a cicatriz no rosto do namorado dela? Culpa minha pois o coloquei na linha de frente com poderes incompatíveis com o poderio inimigo que deveria enfrentar pois eu esperava me livrar de sua concorrência, pois Geovana parecia muito interessada nele. Juro que não faço mais isto! No final ele sobreviveu graças à ação rápida e assertiva dela contrariando minhas ordens. E Urias sobreviveu, me livrei da corte marcial por pouco e perdi meu amor - na sequência os beijos se foram, uma luz que ardia dentro de mim brilhou fraco naquele dia e se extinguiu por completo de Geovana. Ambos me perdoaram, fui aceito na equipe "rebaixado" e na condição de membro esporádico (missões burocráticas também são importantes, me disseram...) não posso mais liderar ninguém, nunca mais. Blue, até você pode mandar em mim hoje em dia, mas, sou um herói, está no meu sangue. Era pouco o que sobrara, mas valia a pena aceitar – tudo por minha veia heróica! Só tenho que saber administrar minhas potencialidades e não matar ninguém. Dá para tirar esta música do Fugees? Não me sinto bem e beijos, quero dizer, não acho que você deva ainda ouvir minhas lamúrias por mais um momento que seja. Desculpe, você não merece estragar a sua noite de sábado com...

- Venha aqui meu herói!

A garota azul-anil caminhou para a janela e a abriu, uma rajada de vento e água sacudiu minhas cortinas e as penas das asas delas. Dependurou-se na beirada com uma atitude decidida e estendeu a delicada mão azul em minha direção, acenando para que eu a seguisse. Segurei meu queixo, coisa inesperada...

- Venha, um vôo vai te fazer bem.

Peguei na mão de Blue e ela me puxou rumo ao céu, (não sou fã de voar noturnamente, mas) desviamos dos rasgões brilhantes, trovões e da chuva que nos fazia voar às cegas. Fomos subindo. Ela subiu, subiu, subiu e quando notei, uma lua enorme e um céu estrelado, noturno estrelado nos observava além da borrasca. Logo, abaixo, a tempestade prosseguia resoluta, o bairro flutuante sendo castigado, todas coisas continuavam lá embaixo, me observando.

- As asas ficam pesadas quando encharcadas, mas vale a pena atravessar uma tempestade; a chuva lava minha alma cada vez que...(a beijei rapidamente cortando sua frase...)



Foi rápido, gostoso, beijo roubado! E ótimo! A beijei, beijei aqueles lábios azuis da Blue, aquele sorriso franco, o bater de asas sustentando-a enquanto eu apenas flutuava ao seu lado. A beijei e já não era Geovana a ocupar um espaço, o brilho, o bater rápido do coração – se o inferno é quando não se ama mais ninguém. Deus, eu era uma alma liberta agora!

Ela olhou dentro de mim e inquiriu divertida:

- O que tem a dizer sobre beijos neste momento?

A olhei sorridente, dizem que se alguém esta fazendo um bom trabalho, só tende a melhorar se receber um elogio – era minha deixa:

- Blue, só peço que me deixe provar um pouco mais destes teus agradáveis beijos de firmamento.Venha aqui, conheço uma ilha legal em Fernando de Noronha para compor nosso cenário!

E as asas me seguiram...





Fim, por enquanto...



Você esta saindo da Zona Crepuscular...já se sonhou voando, ou só sonha caindo, caindo? Talvez - digo talvez - o melhor seria abrir mão do passado com suas glórias e tragédias, observar com cuidado o futuro que finge que vem e não vem e empenhar todo seu esforço de vida no presente e nas oportunidades que surgem neste momento. Sede feliz e volte à zona crepuscular. Mundo grande este nosso! Aguarde mais deste nosso universo multifacetado.


Porteiro da 5ª Dimensão

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Edu:
Todos os dias são dias para se desejar saúde, felicidades, paz. É o que te desejo, embora estejamos já na Quaresma. Não retribui pelo Natal porque estive fora e dei férias ao computador. Ao voltar apressei-me a colocar no Sarrabal textos que já tinha programados. Além de ter dado uns retoques nos posts dos blogs. O tempo é pouco, mas lá consegui. Estou, agora, com o calendário em dia.
Vou dar uma olhada pelos teus escritos para actualizar também a minha leitura.
"Aparece" para saber de ti.
Abraço da Sol

Anônimo disse...

Há tempo para tudo na vida; para postar e deixar de postar e para tantas coisas fantásticas que existem além deste véu virtual que frequentamos! Apareço sim, Sol! Abs!

rafael vignoto disse...

legal este conto..
parabens..cada dia surpreendendo mais..
Gosto muito de seus contos...

ate mais..

e continue assim!!