quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Zona Crepuscular pergunta: O que fazer com um Coração Denunciador?






Zona Crepuscular indaga na postagem desta vez: Pode um coração denunciar as intenções de seu dono? Confira neste misterioso sonho que uma pessoa teve certa vez em algum lugar de nosso planeta:





O CORAÇÃO DENUNCIADOR



Por fim despertei, suado, o coração acelerado e mais uma vez me vi sozinho em meu quarto de meu pequeno apartamento. Logo liguei para a portaria e o porteiro noturno me indicou as horas, alta madrugada – mas o que eu queria mesmo era ouvir uma voz do outro lado após aquele sonho perturbador.

Sonhei um homem magro loiro, ele circulava por ruas, tenso, apertava algo no bolso de sua calça e suava também. No sonho senti odores da rua, das pessoas, das mulheres. Segui o homem a certa distância. O mesmo foi parado pela polícia devido sua atitude suspeita, mostrou documentos, era um engenheiro (como eu sou), se me recordo, se não me recordo julgo ser ou devo ter completado a história com minha imaginação recém desperta. Tudo que sei é que o loiro não foi revistado. Bem, o desespero de esquecer o pesadelo e a vontade de lembrá-lo procurando indícios de alguma finalidade em tê-lo passando como um filme caótico em minha mente nesta madrugada lutaram, venceu o segundo e continuei a lembrar...

O homem foi liberado e mandado para casa, eu continuei a segui-lo à distância, ele se virava a todo o momento, se me via, parecia indiferente; eu não era o objeto de sua busca. Notei agora uma leve fumaça em seu peito, brotava fininha e negra; creio que ela estava lá antes, mas devido ao caráter brumático e enevoado da situação não despertara minha atenção. Só que agora ela se destacava e parecia aumentar à medida que nos afastávamos da polícia. Do peito de algumas pessoas entre os pedestres também saia aquela fuligem e quando olhei para o meu peito quase desabei no chão do susto que levei, na altura de meu coração havia um buraco negro de onde vazava a tal fumacinha. Respirei fundo e me concentrei no ato de convencer-me da natureza do sonho e sua irrealidade. Estava caminhando em terras oníricas e só. De repente o homem estacou, ficou observando o movimento atarantado de pessoas. Volta e meia dava maior atenção para um ou outro passante. A fuligem preta em seu peito parecia aumentar e ficar mais e mais negra - chegava a encobrir e enevoar o rosto do cidadão; cobrindo seus olhos e suas intenções.
Por fim escolheu uma senhora e se pôs a segui-la e eu a ele.

O peito da senhora não sangrava aquele fumo preto, o do homem parecia uma daquelas velhas chaminés do início da revolução industrial na Inglaterra, aquelas leviatânicas empresas com suas crianças sem alma; mulheres e homens em jornadas infinitas sem folgas ou feriados – só o fantasma da demissão, da doença e da mendicância a assombrá-los em meio a turnos cansativos que cuspiam rolos e rolos de fumaça e fuligem para alimentar o fog londrino e desesperar a todos. Agora a fumaça do engenheiro chegava a encobri-lo de meus olhos em certos momentos. Pôs-se ao lado da senhora e de forma rápida e inesperada sacou de uma navalha e apunhalou a senhora - gritei ao ver o absurdo da cena; sem ao menos tentar correr, o assassino foi imobilizado por três senhores, creio que um vigia, um policial e um juiz – era o que me parecia ou o que minha mente julgava adequado e satisfatório para o desenlace daquela cena trágica. A mulher agonizou rapidamente sem entender nada.

Gritavam com o loiro agora, uma multidão o cercava e indagava “por quê, por quê?”.
Sereno e aparentemente aliviado, respondia a todo instante; “não sei... não sei...”.

A fumaça continuava a fluir de seu peito, então num ato de coragem, me desvencilhei da multidão e avancei para o assassino, quando me aproximei dele, vi que sua camisa estava rasgada na altura do peito devido aos puxões que sofrera. O povo parecia surpreso com minha atitude e esta parecia ser a deixa para o início de um linchamento, mas a presença da polícia os desencorajava. Fiz algo estranho naquele momento no meu sonho, vi que o peito do engenheiro tinha uma abertura na altura do coração de onde saia a fumaça, rapidamente enfiei minha mão ali e retirei seu coração negro, levemente coriáceo-rubro, nem pulsava, parecia porcelana negra e, por um furo escapava a fumaça preta que tanto me intrigara, uma falha no coração? Não sei...curioso, com uma mão segurei o coração da criatura e com a outra pelo mesmo buraco que também havia no meu peito retirei meu coração negro rubro de porcelana e o comparei mão a mão com o do assassino. Comecei a suar frio, eram idênticos, os furos, a fumaça negra, o não pulsar. Começou a me faltar ar, uma dor enorme no peito, como se alguém estivesse pressionando minha caixa torácica. Gritei e acordei...

Hoje não dormiria mais (estava decidido) então fiquei na sacada de meu apartamento, vendo as pessoas passarem na rua e pensando na fumaça que fluía lentamente do meu peito. Temi...






FIM, por enquanto...




Você está abandonando neste momento Zona Crepuscular, mas nunca deixe de observar seu peito, qualquer fumaça perigosa que escape de seu coração pode ser o prenúncio de algo que pode fugir ao seu controle...






Volte sempre a Zona Crepuscular





















2 comentários:

ideiasaderiva disse...

fala meu irmãozinho... acho que o blog está amadurecendo... as cores emprestaram mais vida a história... não entendo do riscado, mas gosto das 'questões' apresentadas... têm muito existencialismo nisto tudo... se puder, me manda os textos para o maxrodrigues@cardiol.br... para que possa lê-los com calma... acabou a liberdade... cê sabe...
grande abraço. max

Anônimo disse...

Na hora crepuscular as pessoas são confrontadas com fatos inesperados que as afetam em todo o planeta e claro, no nosso Brasil. A vida imita a arte? A vida absorve a arte e nos surpreende a cada esquina, mandarei os textos para sua meditação. Este amadurecimento é o que mais busco pois tenho por projeto expandir os projetos de Outerzone e Zona Crepuscular via editoras, sites e televisão em 2008. Este portfólio e delírio é apenas o começo!

Abs irmãozinho e fica aqui seu blog para que todos que passarem por Zona Crepuscular possam acessar textos de qualidade de sua autoria:

ideiasaderiva.blogspot.com